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Santarém - 1996

TERRA BRANCA

 

 

A torneira do quintal já não

deita água como antigamente

mas a boca na torneira

é mais livre de matar a sede.


 

A minha seara ainda vai na sementeira

mas a terra que eu trabalho

sempre deu os primeiros frutos

que vêm nascer o sol na eira

 

comovo-me com o futuro da palavra

tenho o sentimento de um homem

preso à terra que cava

sempre com a mesma enxada

 

hoje é que o meu corpo foi uma festa

dos sentidos pela noite dentro

depois de muitos dias de sol bem vividos

mas para o que eu não tinha tempo

 

com tanta pressa de viver

tenho agora três filhos crescidos

esgotei o tempo que tinha para ler

é tempo de começar a amar os livros.


 

Na minha aldeia os rebanhos

é que guardam o pastor e o cão

 

nas festas da minha aldeia

a vida dos pobres é uma alegria

 

e os foguetes são coisa séria

como é a poesia

 

na minha aldeia a gente

grita de contente

 

chorar a ouvir o fado

é deitar à terra a semente

 

os rebanhos é que guardam

o pastor e o cão na minha aldeia

de casas brancas e gente humilde

 

(por contar fica a história da raposa

que é duma aldeia de gente livre).

 



Ao fim da tarde nas hortas

enquanto os homens comem o resto do farnel

à sombra de um salgueiro

os pássaros depenicam à flor da terra

as últimas sementes

 

amanhã de manhã

quando os homens regressarem às hortas

para voltar a fazer tudo de novo

os pássaros já ganharam o dia

debaixo do salgueiro

a comer migalhas

 

(memória de um velho hortelão que me ensinou

a encavar uma enxada e a dobrar-me ao trabalho).


 

Um dia regressaremos a pé

à nossa terra

para alugar uma casa

e viver o resto dos nossos dias

a pregar quadros nas paredes

e a plantar árvores novas no quintal

 

voltaremos a fechar a porta

de casa às sete chaves

e a ter desejos de sair à rua

para regressar de mãos dadas

com a esperança de voltarmos

a viver tudo de novo

 

renascerá o sonho do amor eterno

quando sentirmos no corpo

o efeito do vinho

que ficou a amadurecer

nas antigas adegas

enquanto andámos a cultivar

outras terras prometidas

 

está escrito que haveremos

de regressar a pé

pelo mesmo caminho

à nossa terra

e que voltaremos a querer

viver tudo de novo

ao passarmos pelas mesmas árvores

carregadas de frutos.

 

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