INÍCIO

Crítica II

Posfácio

AMANHÃ INESQUECÍVEL

Prefácio

O LIVRO DOS VENTOS

OURO, NEGÓCIOS, POESIA, ETC

TODOS OS POEMAS
DA VERGONHA

Joaquim António Emídio reúne parte da sua poesia em Todos os Poemas da Vergonha

Joaquim António Emídio reúne parte da sua poesia em Todos os Poemas da Vergonha

 

JAE já publica desde 1983 e esta reunião junta apenas os poemas dos seus primeiros seis livros antes de começar a publicar com pseudónimo. O livro já está nas livrarias. O autor organizou a antologia por ordem dos livros publicados, e os melhores poemas são aqueles que falam do rio, da Terra Branca, dos homens do campo, dos barcos à deriva e de "uma casa rente ao chão", porventura o livro que mais aproxima o autor da terra natal e dos lugares de grandes vivências.

 

A autobiografia é a rainha de todos os géneros literários. Logo a seguir vem a poesia. O resto da classificação fica por conta do leitor. Joaquim António Emidio escreve poesia como quem escreve a sua autobiografia, muitas vezes ficcionada, utilizando assim na sua escrita os dois géneros literários mais importantes da arte de escrever.

 

A poesia de Joaquim Antonio Emidio reunida em Todos os Poemas da Vergonha é  apenas uma parte da obra do autor que h cerca de dezena e meia de anos começou a publicar com pseudónimo, alterando também significativamente e profundamente os temas da sua criação poética. Os poemas deste livro atravessam mais de três décadas e são parte da produção inicial do poeta que começou a publicar aos 25 anos em livros colectivos.

 

A obra aqui reunida mereceu ao longo dos anos alguns elogios da imprensa, e de alguns críticos, mas foi tudo obra do acaso. O autor é jornalista de profissão e conhece bem o que valem os cinco minutos de fama, na rádio, na televisão ou nos suplementos culturais dos jornais, que depois de lidos servem para embrulhar sardinhas.

 

Para serem considerados e conhecidos no seu tempo, os escritores precisam de ser também actores, protagonistas, ou dominarem uma máquina de fazer dinheiro e criar prestígio que não está ao alcance de muitos. E também há quem saiba movimentar-se nesses meios de influências para tirar os devidos proveitos, e recuse, pura e simplesmente, como parece ser o caso de Joaquim António Emídio.

 

Todos os Poemas da Vergonha é um título feliz para uma antologia. Pelo prefácio e posfácio do livro, e também pelo que conhecemos da vida do autor, reconhecemos o poeta que não participa em convívios literários e tertúlias; o poeta que não se serve da máquina que vende livros e para isso precisa de comprar, em nome dos autores, capas de revistas e de jornais.

 

Quase certo que o autor do livro não gosta do tema desta conversa, mas nestes tempos em que editar um livro é mais fácil que viajar entre Porto e Lisboa, parece oportuno deixar escrito na data da edicão definitiva de parte da obra do autor, uma nota para o facto de Joaquim António Emídio ser um poeta quase desconhecido do meio onde se organizam antologias, antecedidas de saraus, e se reservam lugares no Olimpo.

 

De verdade, poetas como Joaquim António Emidio há por aí às centenas. O mercado é pequeno e miudinho, para usar uma expressão que avalia o meio comercial do livro onde os autores são estrelinhas sem lugares fixo no  céu.

 

Depois de Homero, e da  arte poética arquimilenar chinesa, do que ficou para a posteridade nestes últimos séculos salvam-se umas centenas de bons de poetas que deixarem obra que ainda se mantém actual. Milhões de outros escritores escreveram e publicaram e depois desapareceram como mortos em combate..

 

Este texto sobre a poesia e a figura de Joaquim António Emídio não pretende fixar nada para o futuro, nem eleger o autor como um poeta que vai ficar à margem do limbo muito para além dos seus contemporâneos.  Para já há que ter em conta a reedição de poemas escritos desde há 30 anos que nao perderam qualidade nem interesse para alguns leitores, entre as quais me incluo. Reli Todos os Poemas da Vergonha com o mesmo entusiasmo com que leio regularmente os meus poemas e poetas preferidos.

 

Sem dúvida que os poemas da segunda parte do livro são os melhores. O autor organizou a antologia por ordem dos livros publicados, e os melhores poemas são aqueles que falam do rio, da terra branca, dos homens do campo, dos barcos à deriva e de "uma casa rente ao chão", porventura o livro que mais aproxima o autor da terra natal e lugares de vivências.

Mas não devemos subestimar os poemas de "O livro dos ventos", que é anterior a este último, onde estão também poemas que identificam o escritor com as suas raízes e as memórias "de um dia/ em que brinquei com a terra/ e aprendi a abrir as mãos/ quando se semeia". Ou ainda um outro de "A palavra emocional": "O menino mais pobre da minha rua/veio bater-me à porta sem palavras para pedir/o nosso último olhar foi o de velhos conhecidos/ que não se amam mas nunca/ se esquecem um do outro".

 

Com a devida vénia deixo aqui o texto do prefácio e do posfácio de Todos os Poemas da Vergonha que ajudam a dar a conhecer o poeta antes de lermos o seu livro.

 

Annie Gubbio

Publicado no Blog vidaemlisboa.blogspot.com em 15 de Setembro de 2022

 

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Prefácio da vergonha

 

Este livro reúne poemas escritos e publicados entre 1983 e 2003; alguns, muito poucos, foram agora reescritos.

 

Por razões que não interessa explicar, aqui e agora, resolvi começar a publicar com pseudónimo. Desde certa altura do meu percurso como escritor conquistei outras vidas noutros livros, com outros textos, alguns também já reescritos que completam e dão seguimento ao meu projecto literário.

 

Ao reler-me revejo-me nestes poemas como alguém que andou a percorrer um caminho em exaltação, mas também em comunhão, com escritores que me ensinaram (e alguns ainda ensinam) o caminho; também com pessoas que nunca leram ou escreveram poesia e me apontaram com um simples olhar, ou com um dedo em riste, novos horizontes.

 

O desafio de me reler e republicar neste livro é a prova de que ainda não perdi toda a vergonha. Quem escreve poesia sabe que os poetas são animais furiosos, escondendo a baba venenosa da sua boca, umas vezes para se suicidarem com o seu próprio veneno, outras para se vacinarem e fortalecerem numa sociedade que foi, e sempre será, o laboratório de todos os venenos.

 

Todos os Poemas da Vergonha é um título inspirado na vida e obra de poetas que foram ignorados no seu tempo, ou que fizeram da sua vida um poema, como foi o caso de Luís Vaz de Camões, Miguel de Cervantes, Fernando Pessoa, Gregório de Matos, Rainer Maria Rilke, José Maria Fonollosa, Pierre Louÿs, entre muitos outros.

 

Gosto de pensar que sou um homem que sabe sempre, sem falhas de memória quando lhe convém, que as coisas essenciais não se dizem com palavras, mas através dos comportamentos e dos actos; como diz o velho ditado: “é mais difícil ser alguém do que fazer alguma coisa”. Na minha pequena e curta vida de poeta sempre cultivei o silêncio, a devoção e o estudo, e afastei-me o mais que consegui dos entusiasmos de mudar o mundo.

 

Li e leio o suficiente para saber que de tempos a tempos é preciso queimar uma biblioteca de Alexandria e que, por mais que viajemos nos livros, conhecendo-nos até ao osso, são as pessoas e as suas culturas que vamos encontrando e conhecendo que verdadeiramente nos contam a nossa história, que nos dizem quem somos nós.

 

Nos mesmos rios entramos e não entramos, somos e não somos. Inspirado em Heraclito cabe escrever aqui também que todos os textos deste livro são os poemas da vergonha mas também da derrota e da glória. Em todos estes versos há a memória de um tempo, de um lugar, de uma estação do ano, de um dia ou, em certos casos, apenas de um breve momento da vida. A satisfação de dar um poema por terminado acaba no momento em que renascemos para a escrita de outro poema, com o sabugo das unhas a doer, anunciando a continuação da luta pela glória, a que se seguirá mais uma derrota, e um dia mais tarde outra vez a vergonha de vivermos a morte dos poemas e os poemas viverem a nossa morte.

 

 

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Posfácio da vergonha

Os livros sempre foram dispensáveis nas nossas vidas. Ninguém precisa da cultura livresca para sobreviver, ter um bom emprego ou enriquecer sem precisar de trabalhar. Com o advento do cinema e da televisão, e agora com a internet, temos mil formas de substituir o livro sem termos de ceder à preguiça eterna que quase sempre acompanha a leitura.

 

Escrever também não é o melhor e o mais agradável dos ofícios. Dizem até que a escrita literária enfraquece as virilhas. A poesia é uma forma de usar as palavras para transmitir momentos de beleza, ou de horror, mas há séculos que os poetas repetem as mesmas fórmulas, os mesmos versos que estão estampadas em milhões de livros, a maioria de que nunca ouvimos falar, sequer teremos oportunidade de folhear. E, no entanto, alguns de nós escrevem como se habita um mundo novo, como se a beleza de tudo o que nos rodeia e impele, sentimos e vivemos, nos obrigasse a deixar testemunho.

 

Se me pedirem uma explicação para a reedição e reescrita destes poemas, esquecidos em livrinhos de pouca circulação ao longo destes últimos 40 anos, direi como Santo Agostinho citado por Jorge Luís Borges: “ o que é o tempo? Se não me perguntarem o que é o tempo, eu sei. Se me perguntarem o que é, então não sei”.

 

Acreditar em coisas que depois nos desiludem serve às mil maravilhas para definir o sentimento de quem escreve poesia. Quando se publica muito, a desilusão ainda é maior; quando se começa a publicar ainda numa fase da vida em que não se pisou chão suficiente, a coisa piora.

 

A maioria destes poemas foram lidos por outros poetas que também escreveram sobre eles; nessa altura achava que valia a pena procurar conforto e confiança nas palavras de mestres do mesmo ofício. A meio do caminho mudei de ideias; desta vez também fui eu a decidir o que ainda merecia publicação. Eliminei pouco; fraqueza minha que relembro os tempos da escrita de cada poema com a mesma paixão e alegria com que os escrevi.

 

 

 

 

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