INÍCIO
Crítica I
Gostei dos teus poemas. É de continuar a forma simples e despretensiosa como escreves.
José Gomes Ferreira
in ‘Juventude Comunista’,
Dezembro 1980
Trata-se de um livro de estreia de um jovem poeta e deste facto as muitas lacunas e hesitações. Uma poesia que se procura encontrar e acima de tudo que luta entre o que queremos, os desejos ou ideais e a crua realidade. (...) Uma experiência curiosa onde o poema começa o poeta, ou vice versa.
O Diário - Suplemento cultural
16-10-1983
(...)Por trás de uma capa que reproduz um óleo de Oswaldo Teixeira chamado “Fim de romance”, encontramos um homem que publica um livro de poesia “como quem sai de manhã para o emprego” - tão só porque “é mais fácil publicar um livro do que escrevê-lo” - sobretudo quando aquilo que se escreve é fruto da vida... E este livro que o poeta escreveu de facto é o resultado de uma história pessoal marcada por uma infância em que “a poesia era fugir à escola. E a infância era comer um prato de sopa mijar para o céu andar descalço e procurar trabalho para ganhar vergonha”.(...)
Luís Fagundes Duarte
Jornal de Letras, Artes e Ideias,
19/07/1984
(...)Joaquim António Emídio é um poeta português, residente na Chamusca, com uma obra poética singular. Longe das luzes da ribalta - quantas vezes carregadas de artifícios - JAE oferece-nos um livro com algum erotismo e um irresistível apelo à terra e à solidariedade humana.(...)
Ramiro Marques
in ‘Notícias do Entroncamento’,
14/06/1985
É um terceiro livro e traz, liminarmente, uma breve ficha bibliográfica do autor (...). A idade do A. sugere desde logo uma aproximação em relação a outros, os das mais recentes promoções nestes anos 80. Parece não haver qualquer identificação clara com outros, mas tanto não seria necessário, e pode crer dizer que se está na presença de um caso de originalidade (ou de potencialidades disso), embora mais depressa e com mais convicção ocorra que se trata de um caso de desfasamento. Ou isolamento - e aqui entra a vila ribatejana da Chamusca onde JAE vive e tem publicado os seus livros, todos, até agora, por conta própria.
Luís de Miranda Rocha
Diário de Lisboa
28/5/1987
JAE há trinta e quatro anos que vive na Chamusca onde foi - e creio que ainda é - ourives. Há cerca de ano e meio lançou um jornal chamado O MIRANTE (...). São pormenores que é costume não considerar muito. Mas parecem-me aqui de alguma utilidade, ao menos como informação para o leitor interessado ou apenas curioso (...). Amanhã inesquecível, sem surpresa para quem vem acompanhando a evolução de JAE, é em relação aos livros anteriores mais um avanço nos domínios tanto expressivos como formais ou construtivos do poema (...). De resto, é preciso acrescentar que há neste poemário algumas peças de conseguimento excelente e pode-se dizer que definitivo. E uma delas é esta que por razões de espaço, se transcrevem em texto corrido:
Felizmente que deixei as mãos/ a salvo/ depois de tanto ter negociado/ o meu ouro / sempre fui um homem/ de poucas palavras/ em criança era mais fácil/ porque sabia rezar/ já não tenho tanto tempo/ para a poesia/ agora compro e vendo/ ouro pratas relógios, etc/ o ouro sempre foi negócio para grandes/ apuros/ ao fim do dia/ com a poesia/ ainda hoje/ faço o mesmo/ apuro sempre.
Luís de Miranda Rocha
Diário de Lisboa
23/9/1989
(...)Folhear as obras de Joaquim António Emídio, pela ordem cronológica do seu aparecimento deixa transparecer, de um lado, que o seu talento poético se afirma com o tempo e, do outro, que, simultaneamente, amplia a paleta dos seus temas. «Sinto o coração a bater nas palavras» é uma feliz expressão que diz muito sobre a real vocação do autor.(...)
François Baradez
in ‘Letras e Letras’,
17/07/1991
(Tradução Albano Martins)
(...)O Livro dos Ventos, a obra mais recente de Joaquim António Emídio, apresenta-nos alguns dos seus poemas mais significativos. Partindo da ideia de que a arte da poesia e o ofício dos poetas é «matéria difícil de falar», José do Carmo Francisco, autor do prefácio da obra, diz que os 30 poemas deste livro dão voz ao poeta, que procura decifrar o mundo.(...)
‘Diário de Notícias’,
11/11/1991
Esconde-se ao longo de "Amanhã Inesquecível" um projecto mais que pessoal de criação literária (...). A metapoesia é quase palavra chave na apreciação de Amanhã Inesquecível o que mostra o drama do poeta ao definir o indefinível. Por vezes metaforiza, outras junta-lhe conceitos abstractos onde o erotismo é marca quase permanente: a poesia é um acto adultero. Mas esse erotismo ganha asas de sublimidade quando, a par com o telurismo, consegue a interpretação homem/natureza.
Isabel do Amaral Vaz
Letras e Letras
1/01/1992
Um a um, saboreio os poemas de Uma Mulher de Sonhos. (...) Um contributo poético muito forte para a tão necessária mudança de mentalidades com vista à construção de uma sociedade onde os homens e as mulheres possam ser mais felizes. (...) Não é apenas mais um livro de poesia (e um livro de poesia é sempre um valor inestimável). É uma reflexão do outro lado do "eu" que merece ser partilhada por cada leitor.(...)
Rosalina Melro
in ‘O Ribatejo’,
03/11/1994
A observação rigorosa e uma desilusão tranquila ditam-lhe alguns impressionantes poemas.
"Trabalha devagar o coração/ à espera de melhores dias/ para alcançar o ritmo certo". "Que importa o número de filhos que lhe enchem a casa/ quando o problema do pai é sentir-se órfão".
Fernando Venâncio
Jornal de Letras Artes e Ideias
9/04/1997
O princípio enunciado por Patxi Andion - «Pode-se escrever um poema, uma canção ou mentir directamente» - deveria ser lembrado pelos cada vez mais raros leitores de poesia. Ele é um sinal vermelho a quem queira abusivamente ver neste livro uma simples transcrição verbal de uma vida, uma simples comunicação sentimental. Os poetas não escrevem para comunicar: para isso existem os C.T.T. Os poetas escrevem para dar testemunho de um tempo interior no qual (como é óbvio) se cruzam um tempo próprio e um tempo alheio. Não se fechando em si próprio, olhando e vendo os outros, o poeta é, assim, o que está no meio da rua - «A rua mais movimentada da minha terra». Essa rua que, afinal, existe em todas as terras é o espaço imaginário, o ponto divisório entre a Morte e o Amor, a Solidão e a Alegria, a Noite e o Dia (...). O ponto alto desta reflexão é, quanto a nós, a ironia do poema da página 58. Por ele perpassa uma voz sem nome e sem destinatário que, na rua Direita de todas as vilas e cidades, lança um alerta a quem lê e a quem escreve. Assim:
Tens muito que aprender
meu pobre poeta
neste reino dos sacanas
que fazem a festa
atiram os foguetes ao ar
e ainda têm tempo
para apanhar as canas
escrever é resistir
mas no melhor dos mundos
vivem os sacanas
que nem precisam de saber ler.
José do Carmo Francisco
in ‘Correio dos Açores’, 26/06/1997
“Uma mulher não é de ferro” é o mais recente livro de Joaquim António Emídio. Editado por Edições O MIRANTE e distribuído pela «Assírio & Alvim», este é um livro de poemas a verde. Não só porque o seu autor é um sportinguista convicto mas porque o tema base é o amor. Não é preciso muita imaginação para perceber que o amor é verde. Não pode ter outra cor um sentimento que tudo transforma, tudo amplia, tudo multiplica, tudo faz renovar e renascer. Cor da Primavera e da esperança, da vida nova e da nova sementeira, o verde é a cor da luz nos olhos dos homens e na alegria da Terra (...).
José do Carmo Francisco
in ‘Jornal Sporting’,
15/08/2000
(...)Organizados em três segmentos ("Uma mulher não é de ferro", "A mulher de António" e "Uma Mulher de Sonhos”) estes poemas oscilam entre a primeira e a terceira pessoa do singular. Dito de outra maneira: uma parte dos poemas dá voz à mulher-protagonista do texto ("escrevo de costas para os homens que se atravessam no meu caminho") mas outro grupo de poemas regista um olhar exterior e distante:
"Tinha os dedos grossos de apontar o horizonte / perdia-se muitas vezes nas margens do rio / e com os ombros desafiava os grandes pensamentos".
Entre o horizonte limitado da vida quotidiana e o mais amplo da poesia perseguida, a voz da mulher reflecte no poema o desconforto dessa não-ligação entre vida e poesia:
"Nem sempre se pode transformar/ um momento de poesia num poema".
Outro poema, adverte para a capacidade renovada dessa mulher-protagonista para participar em milagres:
"diziam que ela sabia o segredo / do milagre das rosas / porque tinha sempre pão guardado / para os momentos difíceis".(...)
José do Carmo Francisco
in ‘Diário Insular’,
05/10/2000
Falando de seu livro anterior, "Uma casa rente ao chão" (1996), considerei que o poeta, à custa de constante progresso na técnica, já se mostrava "senhor do seu fazer poético". De facto, o poeta constrói uma obra de recorte igualmente coloquial, e seu estro não raro se vale de termos chulos. O poeta realiza de facto um único poema, pois as três partes que o compõem (...) encarna uma mulher em geral sob vários aspectos (...). Na segunda parte, ‘Mulher de António’, os segmentos poéticos são feitos na primeira pessoa feminina, mostrando a mulher "por dentro": o que pensa do sexo, do orgasmo, do casamento, do homem que a possui e de outros homens, etc. São fragmentos poéticos de linguagem rude e áspera, mas de extrema lucidez existencial, pondo em cheque sempre a atitude masculina quanto às relações com a mulher. Enfim, na terceira parte, ‘Mulher de sonhos’, ao lado de trechos escritos na terceira pessoa, a mulher e o homem alternam a primeira pessoa dos poemas, exibindo de parte a parte uma compreensão da vida em comum. Assim, tem o livro uma verdadeira composição sinfónica, muito embora tema e contratema se misturem em todas as partes, com grande lucro poético para o autor.
Fernando Py
in ‘Tribuna de Petrópolis’, 24/03/2002
"Bom dia meu sol da tardinha/ meu copo de água de rosas/ minha pedra da beira do rio/ bom dia minha borboleta gordinha": assim discorre a lírica de Joaquim António Emídio em "Elogios".
Emídio habituou-nos à poesia dos quotidianos e das pequenas coisas, sem receios pela aparente desafinação de ritmos que, afinal, traduzem a "desafinação" das coisas e dos dias: a vida é isso.
Nuno Rebocho
in ‘O Primeiro de Janeiro’,
2006
«Pequenos elogios» de Joaquim António Emídio
Trata-se do 11º título deste autor (Chamusca, 1955) que se estreou em 1983 com
«Os dias sonâmbulos». O ponto de partida do livro é a paisagem povoada da
memória do amor:
«gosto do café sem açúcar mas peço-te / por favor um pouco da tua saliva / na
minha chávena para aprender / a gostar do café muito doce.» O poeta viaja a
partir do seu bilhete de identidade: «Sou um homem do campo / tenho as mãos
grandes / e os dedos grossos / de amassar o pão para comer». O lugar da viagem
pode ser Roma («depois de subir / uma das sete colinas de Roma / entrei numa
igreja / e cheirei as flores de um casamento») ou pode ser a Chamusca: «Os
rouxinóis já não cantam / nos salgueiros da maracha / venho de lá agora / pelo
caminho das searas / onde o rio é mais livre / sem a lembrança das margens».
Não é inocente a referência ao espaço entre terra e água como ponto de encontro
para o amor: «vem comigo apanhar sol na cabeça / e ouvir os pássaros da
vindimas / que trazem no bico as novidades da vila / e nas asas o cheiro a
mosto das adegas». O amor não é uma abstracção e só existe quando os amantes
estão perto da Terra: «Amo o teu rosto de lua azul / sonho com a tua saliva
doce / de tantos beijos adiados / sou o confidente das ervas / que crescem à
tua porta / o sol que entrou pela tua janela / sou eu a correr para ti de
braços abertos / um dia vou amanhecer nos teus olhos / e florir nas tuas mãos».
A escrita é uma viagem que tem referências: «quem me dera ter nascido / com o
coração do Ruy Belo / e o sangue impróprio / do Jorge de Sena». Para o poeta
«Os livros são crianças / a morrer de sono / comendo das nossas mãos / o pão e
o sonho». Num terreno armadilhado pelo lugar-comum, eis um livro onde a voz
própria do poeta se ergue, se articula e se projecta na memória do amor.
(Editora: Terra Branca, Impressão: Europress Lda.)
José do Carmo Francisco
Fonte: Transporte Sentimental Blog
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