A Contestação do Desejo

Faço a leitura sílaba a sílaba
do fulgor disponível
que abandonas na carne
escondida do teu corpo
és um texto inédito
desarticulado
em vertentes de veias anónimas
inumeráveis por dentro
só com a paciência
das superfícies
posso delinear o orgulho
dos sentidos que trazes à deriva
entre os lábios rios
e o pedúnculo dos sonhos
raízes víveres.

Por enquanto escrevo junto
à nascente para deixar
inundar a terra toda
a noite deve ser longa para o sol
amadurecer
nunca o tempo do voo fácil
das palavras.

Incompreendido não fecharei as páginas
do teu livro sim demora-me
assusta-me espanta-me eu trouxe
da placenta um coração tranquilo.

Com a tua lucidez de atravesso
na luz desde que deixaste arder
por dentro toda a moral a memória
tem tempo para se servir do passado
e organizar refúgios de corpos
sobre corpos nus
no lugar público do amor final
mente livre
és um remanso de prazer
por dentro
da superfície do meu sangue
sol a prumo
onde germinam as sementes.

Que medida dás a um palmo
curto de carne
quando julgas que peso
uma mão cheia de vento ?